“ O Amor é terapia, no mundo não há nenhum outro tratamento senão o Amor. É sempre o Amor que cura, porque o Amor faz você inteiro”. (Bert Hellinger)
Muitas vezes na infância nos deparamos com muitas perguntas sobre o nosso sistema familiar. Por exemplo: por que meu pai nunca fala da família dele? Como minha mãe se sentiu quando o pai dela foi embora e sua mãe teve que trabalhar fora para sustentar os filhos pequenos? Por que só vamos a casa de uma determinada tia e outra não?
E assim, podemos continuar com a lista de perguntas… e a criança cresce muitas vezes sem respostas e se torna um adulto ligado àquelas perguntas.
Herdando as memórias do sistema familiar
Participamos de um sistema familiar complexo e com muitas memórias. Recebemos essas memórias durante a gestação e vivemos com elas através das nossas células.
Desde o nascimento sentimos “endividados”, de uma maneira inconsciente aos nossos pais e ancestrais. Isso se dá porque houve um gasto de energia para manter a gestação e passar pelo processo de parto, onde a mulher passa por uma experiência de risco de morte. Assim, ficamos com a sensação de ter que devolver algo à família de origem.
Assim, queremos ao longo da vida, “resolver” questões que não foram completamente curadas na história do nosso sistema familiar e nos envolvemos em situações no cotidiano que nos ligam àquelas memórias. Então entramos em conflitos na certeza (inconsciente) que estamos ajudando ou compensando algo para ajudar nossa família.
A essa atitude Hellinger chama de amor infantil ou inocente. Toda criança fica muito disponível a ajudar o sistema a ponto de dar a própria vida como recompensa a tudo o que recebeu.
Vamos ver nos níveis de consciência que não há espaços vazios nas memórias do sistema familiar. Mas como pertencemos a uma família com muitas exclusões e esquecimentos, sempre fica algum vazio e quem vai querer cobrir essa lacuna será alguém em alguma geração posterior.
Portanto, devemos considerar tudo aquilo que foi excluído e esquecido do nosso sistema familiar. Dessa forma, vamos conseguir entrar em equilíbrio, estando no nosso próprio lugar, mantendo a presença no aqui e agora.
Dizia Berth Hellinger:
“ O amor preenche o que a ordem abarca. O amor é a água, a ordem é o jarro. A ordem ajunta, o amor flui. Ordem e Amor atuam juntos.”
É muito importante reorganizarmos a imagem interna que temos sobre determinada situação de nosso sistema familiar. Dessa forma, as Ordens do Amor nos ajudam trazendo clareza daquela(s) memória (s) que estamos identificados, possibilitando uma nova ordem, centrando na presença.
Passamos agora a conhecer um pouco mais sobre as Ordens do Amor.
HIERARQUIA
Hierarquia é a Ordem que diz sobre o lugar de cada um dentro do sistema familiar. A princípio, Berth Hellinger percebeu através da convivência com sua família e com a tribo dos Zulus a importância de cada membro da família se manter no seu respectivo lugar, deixando em equilíbrio essa ordem.
Ela diz que, quem veio antes se torna maior, não em tamanho físico mas em tempo de vida e de experiência. Assim, todos os que vieram antes, nossos pais, avós, bisavós… têm prioridade de decisão. Isso se aplica tanto nas famílias, quanto nas empresas.
De pai para filho
Imagine você determinando o que o seu pai vai fazer com o salário que ele recebe todo mês.
Se você acha, por exemplo, que ele gasta tudo com algum vício e não paga as despesas mensais, o reflexo é querer controlar o dinheiro do seu pai. E isso dará certo por um tempo. Mas em algum momento da sua vida, você se verá resolvendo questões do seu superior dentro da empresa onde trabalha, gerando algum conflito com pessoas que estão acima de você. Além disso, quando você tiver filhos, eles aprenderão que a verdade nessa família é cuidar/ controlar/ resolver as situações que o pai não consegue resolver. Assim, o sistema familiar entende que os menores cuidam dos que vieram antes. Isso pode trazer problemas no trabalho, como no exemplo anterior, questões relacionadas à saúde e nos relacionamentos afetivos.
E quando numa constelação familiar identificamos esse comportamento, trazemos essa consciência para o presente e nos colocamos no próprio lugar, onde existe mais força. Dessa forma, também é importante concordar, no sentido de olhar essa situação de um lugar mais distante e fazer perguntas ao invés de continuar nos processos de julgamentos.
Uma maneira muito interessante de perguntar é: por que será que meu pai gasta tudo o que ganha com vício? O que ele está honrando quando quer perder tudo? Será que alguém da família dele passou fome e ele quer honrar ficando sem comida? Será que assim ele quer representar alguém que foi excluído por conta de algum vício, fazendo a mesma coisa para trazer a memória desse familiar para não ficar esquecido?
Essa é a melhor maneira de olhar a situação um pouco mais de longe e trazer clareza para consciência.
PERTENCIMENTO
No Pertencimento aprendemos a dar lugar a todos aqueles que ficaram esquecidos e/ou excluídos dentro da nossa família.
Essa ordem traz a clareza que todos têm um lugar dentro do sistema e ninguém pode ficar de fora.
Como exemplo dessa situação, aprendemos a incluir todas as gravidezes que não foram contadas (os abortos), as mães solteiras, as famílias que doaram seus filhos a adoção, os loucos, os que praticavam vícios, os que foram escravizados, os que escravizaram, os que mataram…
Quero lhe convidar a fechar os olhos nesse momento e criar uma imagem onde essas situações são acolhidas dentro do seu coração. E sinta como é dar espaço a todos os que ficaram de fora por um tempo, permitindo um lugar especial no seu coração a cada um.
EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER
Berth Hellinger trouxe esse Pilar das Ordens do Amor através dos estudos do psiquiatra húngaro-americano Ivan Boszormenyi-Nagy.
Ele desenvolveu a abordagem contextual de psicoterapia familiar e individual. E percebeu através dos comportamentos dos pacientes que, as relações humanas são feitas por trocas. Sempre deve haver um equilíbrio naquilo que damos e recebemos nessas trocas.
Com exceção da relação entre filhos e pais, onde aqui não há equilíbrio, como vimos anteriormente. Os pais dão a vida, os filhos recebem e seguem adiante.
Mas em todas as outras situações, entramos em uma “dívida”, uma pressão natural em devolver algo em relação àquilo que recebemos de alguém, segundo a percepção de Ivan.
Todavia, é preciso ficar atento a essa situação. Não temos necessariamente que devolver algo a pessoa que nos deu algo. Mas sim, doar de alguma maneira, o que recebemos dos outros.
O que Ivan traz e Hellinger viu sentido dentro do sistema familiar é que se não houver equilíbrio entre o dar e receber, as relações se perdem de alguma maneira. A pessoa que só recebe vai embora da relação ou começa a desvalorizar demais o outro. E vemos isso com muita clareza nas relações afetivas, quando um dá mais e o outro não consegue equilibrar.
E equilibramos essa ordem quando numa constelação temos essa clareza e decidimos sair da desigualdade, onde estamos dando ou recebendo mais.
Elaine Assis
Consteladora Sistêmica